Voadeira
A música Voadeira de Mônica Salmaso
Mônica Salmaso atravessa um momento especial dentro de sua já amadurecida carreira musical. Após o Cd “Afro sambas” – em duo com o violonista Paulo Bellinati – e o sucesso de seu primeiro Cd solo “Trampolim”, a cantora paulistana de 28 anos surpreende novamente com o lançamento de “Voadeira”.
Vencedora do II Prêmio VISA de MPB – Edição vocal em 1999, tendo sido eleita pelo grande juri e também pelo juri popular, Mônica confirma sua qualidade vocal e ao mesmo tempo revela uma visão absolutamente distinta e elegante da nossa música popular.
Dona de um estilo único, Mônica oferece em “Voadeira”, interpretações para composições inéditas como Dançapé – de Mario Gil e Rodolfo Stroeter – ou Negrinho do Pastoreio e Juparanã, da compositora e cantora carioca Joyce em duas parcerias – com Paulo César Pinheiro e Silvia Sangirardi , assim como apresenta precoces releituras de clássicos da MPB como Ave Maria no Morro, Minha Palhoça e Valsinha, respectivamente compostas por Herivelto Martins, J. Cascata e Vinícius de Moraes/Chico Buarque.
O bom gosto e a originalidade dos arranjos, aliados à interpretação sempre segura e diferenciada da cantora, credenciam o CD como um dos melhores lançamentos do ano de 1999.
Em “Voadeira”, Mônica Salmaso equilibra gêneros distintos da música brasileira como o samba, a valsa, o baião, o xote e a modinha, promovendo com essas leituras uma ampliação dos horizontes de nossa música popular, através da mais bela voz surgida nos últimos anos em nosso país.
Produzido por Rodolfo Stroeter, o Cd conta com a participação de músicos renomados que brilham no cenário da nossa música atual como Paulo Bellinati, Marcos Suzano, Benjamim Taubkin, Nailor “Proveta” Azevedo, Toninho Ferragutti, Teco Cardoso, Mario Gil, Paulo Freire, Caito Marcondes, Eduardo Contrera, Guello, Zezinho Pitoco, Webster Santos, Lelo Nazario, além do próprio Rodolfo Stroeter.
O Cd tem o projeto gráfico assinado pelo designer mineiro Marcílio Godoi, no qual foram utilizadas fotografias cedidas pela fotógrafa Ana Marianni – de seu livro “Pinturas e Platibandas”.
Gravado entre agosto e setembro de 1999, “Voadeira” é mais um lançamento da Gravadora Eldorado.
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Comentários sobre o repertório de Voadeira
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1. DANÇAPÉ
(Mario Gil / Rodolfo Stroeter)
Primeira parceria de Mario Gil e Rodolfo Stroeter, essa música foi composta especialmente para o disco. A letra trás elementos de música e dança típicos do Brasil, citados e catalogados por Mario de Andrade. É um convite ao disco e acabou se tornando uma deliciosa festa de abertura no estúdio.
2. O VENTO
(Dorival Caymmi)
Um clássico da obra de Dorival Caymmi, simples e profunda, é sempre uma reverência a um dos mais maravilhosos compositores do Brasil.
3. VALSINHA
(Vinícius de Moraes / Chico Buarque)
Uma valsa que sempre me emocionou pela emoção que ela provoca – de amor e de felicidade. Gravamos ao vivo em estúdio eu, o Rodolfo, o Benjamim e o Proveta, e essa foi uma experiência bonita pra mim. A música serve à letra e vice-versa; a melodia desenha a valsa; e a poesia delicada e precisa ganha força.
4. CANTO EM QUALQUER CANTO
(Ná Ozzetti / Itamar Assumpção)
Conheci essa música em um show da Ná e me apaixonei. Ela tem esse tempero de Cabo Verde, essa letra que é um “manifesto” e um convite; e uma melodia simples que fica na memória como as cirandas de domínio Público. Os instrumentos soam soltos e conversam entre si. Violão, vila caipira, piano, baixo acústico e percussão.
5 . SILENCIOSA
(Fátima Guedes)
Esta é uma toada completamente feminina-interna. Já passei horas seguidas ouvindo a gravação original, o que me fez querer gravá-la mesmo achando perfeita e definitiva no disco da Fátima Guedes. Meio Jorge Amado, a letra e a música tem a preguiça e o tempo desdobrado e descansado.
6. BERADERO
(Chico César)
Desde que ouvi esse cordel pela primeira vez, fiquei apaixonada pelas imagens que o Chico encontrou. Gravamos eu e o Rodolfo, eu com as imagens incríveis da poesia e ele como uma pintura de um quadro, estabelecendo o espaço, a geografia do Nordeste. Fiquei muito feliz com essa gravação.
7 . A VIOLEIRA
(Tom Jobim / Chico Buarque)
Esse xote faz parte da trilha do filme “Para viver um grande amor”; um disco do qual eu já cantei quase todas as músicas, de tão belas. “A violeira”, tem essa coisa narrativa, bem humorada e direta da vida na seca.
8. SENHORINHA
(Guinga / Paulo César Pinheiro)
Essa modinha já foi tema de novela quando eu tinha 14 anos. Ficou guardada na minha memória até que eu conheci o Guinga e então, tudo fez sentido. Música eterna e atemporal, assim é esse compositor, clássico na forma e moderno na melodia e harmonia. A letra do Paulo César Pinheiro, tão delicada, respeita a música e conversa com ela. Convidei o Bellinatti pra fazer esse arranjo e tocar, porque ele compreende a linguagem do Guinga, e então saiu esse arranjo maravilhoso.
9 – CARA DE ÍNDIO
(Djavan)
Nesse arranjo, a melodia e a letra circulares, como um Hai-kai ,são o elemento fixo e o piano do Benjamim, o baixo do Rodolfo e a percussão do Caito estão soltos e livres, conversando entre si.
10 – JUPARANÃ
(Joyce / Paulo César Pinheiro)
Fico muito feliz em gravar a Joyce. Esta música tem um pouco do “Boto” do Tom Jobim – ambas muito brasileiras; e assim que a ouvi, achei que se parecia comigo e com a minha maneira de cantar.
11 – NEGUINHO DO PASTOREIO
(Joyce / Silvia Sangirardi)
A música do sul do Brasil é pouco divulgada no eixo São Paulo-Rio de Janeiro. Essa canção, apesar de carioca, tem por tema um personagem do folclore sulista e o Toninho Ferragutti fez um belíssimo arranjo que trás o acordeon dos “pampas” como um convite a esse encontro com o Sul do Brasil.
12 – MINHA PALHOÇA
(J. Cascata)
Conheci essa música através de um Cd do cantor Zé Renato em homenagem a Sylvio Caldas e fiz uma deliciosa viagem pelo Brasil dos anos 30 e 40. Aqui, gravada ao vivo em estúdio, com o Marcos Suzano tocando cajon e o clarinete do Proveta dialogando livremente com a melodia, como só ele sabe fazer.
13 – ILU-AYE (Terra da vida)
(Cabana / Norival Reis)
Este lindo samba-enredo de 1972 da Portela, foi gravado por Clara Nunes. Eu tenho um sentimento especial por essa letra que faz uma louvação dos negros brasileiros à África. Melodia maravilhosa, aqui tocada em partido alto e cuícas de escola de samba carioca pelo Marcos Suzano.
14 – AVE MARIA NO MORRO
(Herivelto Martins)
Um clássico da música brasileira, ficou conhecido pela majestosa Dalva de Oliveira. Aqui, num duo com o Benjamim Taubkin, com o qual tenho trabalhado junto, sempre com o maior prazer de estar trocando música.
15 – CANÁRIO DO REINO
(Carvalho / Zapatta)
Essa música foi gravada por Tim Maia em 1972. Aqui, com o arranjo do Toninho Ferragutti e tempero de maracatu.