Noites de Gala, Samba na Rua
Segundo álbum da cantora pela Biscoito Fino recria composições de Chico Buarque, com participação do grupo Pau Brasil em todas as faixas
Mônica Salmaso lança seu segundo CD inédito pela Biscoito Fino, Noites de Gala, Samba na Rua, só com músicas de Chico Buarque.
O disco é todo gravado ao lado do grupo Pau Brasil, formado por Nelson Ayres (piano), Paulo Bellinati (violão e cavaquinho), Teco Cardoso (sax e flauta), Ricardo Mosca (bateria e percussão) e Rodolfo Stroeter (baixo e produção do álbum).
A química – entre a voz precisa de Mônica, a sonoridade jazzística do Pau Brasil e as canções de Chico Buarque – perpassa quatro décadas de criação do maior compositor brasileiro e resulta num disco instigante, de releituras ágeis que por vezes passam pela desconstrução da própria construção de Chico. Compositor cultuado por Mônica desde o início de sua carreira, Chico Buarque convidou a cantora para participar de seu mais recente CD, “Carioca”, com quem dividiu os vocais em “Imagina”.
Mônica dedicou um show inteiro ao mestre, na Biblioteca Nacional, no Rio, durante as comemorações pelos sessenta anos de Chico, em 2004. A partir daí, delineou cuidadosamente um repertório que contempla diversas fases do autor. Do Chico inicial, tratado como herdeiro de Noel Rosa na prolífica década de 60, Mônica selecionou quatro faixas. Os sambas “Quem te viu, quem te vê” (de cujos versos foi retirado o título do álbum) e “Logo eu” (com os contrapontos do sax de Teco Cardoso ao estilo de Pixinguinha); o clássico “Morena dos olhos d´água” e o raro e irresistível maxixe “Bom tempo”.
Da década de 70, período em que as canções de Chico Buarque tornaram-se emblemas contra a ditadura estão “Construção” (aqui flertando com a música contemporânea), “Partido Alto”, “Basta um dia” (da peça “Gota D´água”) e “Olha Maria”, parceria de Chico com Tom e Vinicius. Nos anos 80, quando Chico incorporou definitivamente a condição de unanimidade nacional, entram “A volta do malandro” (feita para o filme “Ópera do Malandro”, de Ruy Guerra); “Beatriz” e “Ciranda da bailarina” (parcerias com Edu Lobo para “O grande circo místico”); “O velho Francisco” e “Suburbano coração”. “Você, você” (parceria com Guinga) é a faixa da sofisticada maturidade de Chico, a partir dos anos 90, selecionada para este álbum.
Mesmo tendo ligação forte com o Pau Brasil, é a primeira vez que Mônica canta acompanhada por todos eles. Ela conta: “Com Paulo Bellinati, gravei meu primeiro CD, Afro Sambas. Rodolfo Stroeter é o produtor dos meus discos desde Trampolim, de 1998, relançado pela Biscoito Fino em 2006. O Teco Cardoso, com quem hoje eu sou casada, trabalha comigo desde 1998 em discos e projetos, como a Orquestra Popular de Câmara. Ricardo Mosca eu conheço desde 1990, quando comecei a cantar. E com o Nelson Ayres trabalhei pela primeira vez em 1993, quando ele me convidou para participar de uma edição de O Grande Circo Místico”, explica.
A escolha do repertório do novo CD foi feita em conjunto. A intenção era criar um disco em que a voz da cantora e a sonoridade do Pau Brasil estivessem perfeitamente integradas. De uma lista de 60 composições de Chico chegaram a 14, escolhidas conforme os arranjos iam se delineando. E o Chico, gostou? “Chico recebeu uma cópia do CD ainda antes da mixagem. Ele telefonou pessoalmente pro Rodolfo e pra mim, dizendo que ficou muito emocionado”, reverencia Mônica, cabrocha de alta classe em noites de gala e samba na rua.
Texto do encarte
No gigantesco universo da canção brasileira, há dois compositores-mestres que eu escuto desde criança e que me ensinaram música e também alma e cultura brasileiras: Dorival Caymmi e Chico Buarque.
Me parece natural que, a certa altura da carreira, um intérprete se dedique a fazer projetos sobre a obra de determinados compositores. Num mergulho dessa natureza, mesclam-se a homenagem e o prazeroso trabalho de foco e pesquisa.
Em 2004, fiz um show com músicas do Chico Buarque, como parte de uma linda exposição na Biblioteca Nacional, no Rio de Janeiro; depois, houve algumas temporadas que esse primeiro show gerou. Em 2006, pra minha completa surpresa e absoluta felicidade, veio um convite do Chico para eu participar do cd CARIOCA.
Esse encadeamento de episódios me levou a antecipar o projeto que eu sabia que faria mais tarde.
Queria para este disco uma sonoridade de grupo e imediatamente convidei o Pau Brasil, por sua criatividade e maturidade musical, por nossa convivência em vários trabalhos e formações, desde os AFRO SAMBAS, com o Bellinati, e por sua própria história com a discografia do compositor – gravando com Chico e Edu Lobo em 1988 o disco A DANÇA DA MEIA-LUA.
Quisemos unir a voz ao grupo – como eu gosto e acho divertido cantar -, explorar a sonoridade de cada instrumento e as nossas possibilidades de encontros.
Agradeço imensamente ao Chico Buarque, pelas canções que fazem parte da minha formação musical e emocional e pela gravação de “Imagina”, e ao Pau Brasil, por ter aceito o convite e por fazer uma música tão viva e tão boa.